CARACTERÍSTICAS DOS ANFÍBIOS PERERECAS RÃS SAPOS
 
 

ÍNDICE

  1. EVOLUÇÃO E ORIGEM DOS ANFÍBIOS
  2. RELAÇÃO DOS ANFÍBIOS COM O HOMEM
  3. BIOLOGIA DOS ANFÍBIOS
  4. ESTRATÉGIAS DE REPRODUÇÃO DAS ESPÉCIES DA MATA ATLÂNTICA DA REGIÃO NORTE DE SC
  5. PREDAÇÃO DE ANFÍBIOS
  6. BIBLIOGRAFIA
  7. AGRADECIMENTOS
 

4. Estratégias de Reprodução das Espécies da Mata Atlântica da Região Norte de Santa Catarina

4.1 Introdução

Nenhuma classe de animais (répteis, aves, mamíferos ou peixes) apresenta tanta variedade de estratégias de reprodução como a classe dos anfíbios. A maioria das espécies de anfíbios põe ovos, sendo chamadas OVÍPARAS. Mas, há também, espécies cujos sapinhos desenvolvem-se dentro do corpo da mãe, como nos mamíferos. Estas espécies são chamadas VIVÍPARAS. Há, ainda, espécies em que o ovo fica retido no corpo da mãe até o sapinho nascer. Neste caso, são chamadas OVOVIVÍPARAS. Espécies vivíparas e ovovivíparas não dependem de corpos de água (lagoas, poças, riachos, etc.) para se reproduzirem. A seguir, serão apresentadas as estratégias de reprodução das espécies da região norte de Santa Catarina.

4.2 Estratégias de reprodução das espécies ovíparas

A forma de reprodução mais comum dessas espécies é a de depositar os ovos na água, utilizando diversas estratégias resultantes de adaptações às condições desfavoráveis do ambiente (mudanças no clima, ação de predadores, etc.), que ocorreram durante milhões de anos no planeta. Outras, no entanto, não depositam os ovos na água, mas fora dela.

O número de ovos em uma ninhada depende da estratégia utilizada. Se a estratégia for boa para proteção contra eventuais predadores, a quantidade de ovos será pequena, podendo ser de apenas 2 ovos. Em Santa Catarina, há uma espécie de rãzinha que deposita apenas 8 ovinhos. Mas, se a estratégia não oferece muita segurança contra predadores ou secagem da lagoa, o número de ovos pode chegar a 8 mil, que é o caso do Sapo-comum. Mesmo que tudo dê certo e os 8 mil girinos se transformem em sapinhos, poucos chegarão à fase adulta.

Figura 4.1 - Estratégia de reprodução: muitos ovos para compensar a predação e garantir a perpetuação da espécie.

Quando saem da água, os sapinhos são um pouco maiores que uma mosca e não têm muita agilidade para escapar dos predadores, sendo facilmente apanhados por aves e aranhas, por exemplo. Após algumas semanas de vida na terra, os sobreviventes ficam maiores e passam também a servir de comida para cobras, lagartos e outros bichos. Muitos também morrem por não encontrarem um abrigo úmido e fresco para se protegerem contra o ressecamento da pele.

Figura 4.2 - Quando saem da água, os anfíbios ficam bastante vulneráveis a predadores e hostilidades do ambiente. Se não houver abrigo apropriado contra perda de umidade e calor ou frio excessivo, eles podem morrer. Exemplar da foto: FILOMEDUSA (Phyllomedusa distincta).

O sapo comum, ao atingir a fase adulta, torna-se mais difícil de ser capturado pelos predadores devido ao seu tamanho e às bolsas na lateral da cabeça, que contêm uma substância leitosa (veja item 2.5 “Os sapos têm veneno?”). Note que, se a quantidade de ovos do sapo não fosse grande, a espécie já teria desaparecido. Por outro lado, com certeza, também não existiriam muitas espécies de animais que precisam se alimentar de sapinhos.

Figura 4.3 - Quando fica adulto o sapo torna-se uma presa difícil devido à suas glândulas (próximas à cabeça) bem desenvolvidas, assim como ao seu tamanho, cerca de 13 cm (no caso do macho, como o exemplar da foto).

Diferente do que ocorre com as aves, os ovos dos anfíbios não são protegidos por uma casca dura. Eles desidratam com facilidade e, por isso, devem ficar permanentemente umedecidos para que ocorra o desenvolvimento seguro do embrião. Este é o motivo pelo qual os anfíbios põem os ovos envolvidos em substâncias gelatinosas fabricadas por seu próprio organismo que protegem os ovos contra a desidratação.

Figura 4.4 - Desova da Filomedusa (exposta pela ação das chuvas): mostra uma característica dos ovos dos anfíbios, que são desprovidos de casca dura e necessitam de proteção, feita por uma massa de gel para evitar a desidratação.

Estas substâncias que envolvem os ovos podem ser: espuma (exemplos: Rãzinha-foi-não-foi, Rã-comum, Rã-bugio); película ou massa de gel (exemplos: Sapo-martelo e a maioria das pererecas) ou cordão de gel (exemplo: Sapo-comum).

4.2.1 Desova em espuma

Os ovos ficam no meio da espuma e, assim, estão protegidos contra o ressecamento. A fêmea produz uma substância parecida com clara de ovo de galinha e a espuma é produzida pelo casal, ao agitarem essa substância com as pernas.

 
Figura 4.5 - Desova da rã-bugio (Physalaemus olfersi).

 

Figura 4.6 - Desova da rãzinha-foi-não-foi (Physalaemus cuvieri).

4.2.2 Desova em espuma flutuante

Os ovos são depositados em gel com bolhas - espuma (veja Figura 4.7) - produzidas pelo casal ao agitarem a película de gel com as pernas, que mantém a ninhada flutuando. A vantagem desta estratégia é que a espuma com os ovos acompanha a lâmina de água à medida que a lagoa seca. No caso da espuma ficar fixa, como no item 4.2.1, há riscos de perda da desova, se a lagoa secar muito rapidamente.

Figura 4.7 - Espuma flutuante: vantagem da ninhada em acompanhar a lâmina de
água à medida que a lagoa seca.
Figura 4.8 - Perereca-gargalhada (Scinax rizibilis): utiliza a estratégia
de desovar em espuma flutuante. Este exemplar é um macho

Figura 4.9 - Rãzinha-da-cabeça-pequena (Chiasmocleis leucosticta). Rãzinha de 20 mm que utiliza a estratégia de desovar em espuma flutuante.

4.2.3 Desova em forma de película de gel sobre a superfície da água

Figura 4.10 - Desova em película de gel: estratégia de reprodução da maioria das pererecas.

4.2.4 Desova em forma de cordão de gel

Figura 4.11 - Estratégia de reprodução do Sapo-comum (Bufo ictericus).

O fato de os ovos dos anfíbios não estarem protegidos por uma casca dura, como os ovos das aves, deixa-os expostos à infiltração de substâncias químicas dos agrotóxicos ou de outros agentes poluidores contidos na água, como detergente de lavar louças e sabão em pó. Isso pode matar os embriões, fazer com que rãzinhas nasçam deformadas ou fiquem sem resistência às doenças, levando-as à morte logo que iniciem a vida na terra.

4.3 Desova na água com fase de girino aquático

Os anfíbios utilizam os seguintes ambientes aquáticos para procriação: lagoas permanentes, lagoas e poças temporárias (que secam num período do ano), rios e riachos, água no interior de bromélias e poças escavadas pelas próprias rãs.

4.3.1 Lagoas permanentes

Lagoas permanentes são aquelas que nunca secam. Neste tipo de lagoa, costumam ocorrer predadores de girinos, como: insetos aquáticos, larvas de libélula, traíras, lambaris, cágados - espécie de tartaruga carnívora - e cobras-d’água.
Os girinos das espécies que utilizam lagoas permanentes têm estratégias para se defender desses predadores naturais, como ficar agrupados, simulando a aparência de um animal grande. Outra estratégia é a pigmentação escura, associada à substâncias de sabor desagradável, desencorajando predadores que, porventura, tenham provado algum desses girinos.

Figura 4.12 - Lagoa permanente (represa artificial): poucas espécies conseguem se reproduzir em lagoas permanentes, por causa dos predadores de girinos, peixes principalmente.

Na Mata Atlântica da região norte de Santa Catarina, existem muitos anfíbios que se reproduzem em lagoas permanentes: Sapo-comum (Bufo ictericus), Rã-comum (Leptodactylus ocellatus) e Rãzinha-foi-não-foi (Physalaemus cuvieri). A Rã-comum é uma das poucas espécies conhecidas no mundo com desova em meio aquático, que protege a ninhada contra a ação de predadores pequenos (insetos) e costuma investir até contra animais maiores, mesmo correndo o risco de ser devorada. O que a torna diferente é a característica de proteger a ninhada, o que é comum apenas nas espécies com desova terrestre.

A desova do sapo é feita em cordão de gel (ver Figura 4.11), enquanto a desova da Rã-comum e da Rãzinha-foi-não-foi é em espuma (ver Figura 4.6). Muitas espécies de pererecas, que também se reproduzem em lagoas permanentes, depositam os ovos numa película de gel sobre a superfície da água (ver Figura 4.10), de forma que fiquem sempre na superfície em contato com o ar para se manterem oxigenados. Por isso, é importante que ninguém mexa nessa película, senão os ovinhos afundam e os embriões morrem.

4.3.2 Lagoas e poças temporárias

Lagoas e poças temporárias são aquele tipo de ambiente aquático que seca pelo menos uma vez por ano, geralmente durante o período seco de inverno e nas estiagens prolongadas.

Figura 4.13 - Banhado (lagoa temporária): maternidade para a maioria dos anfíbios da Mata Atlântica.

Os banhados (brejos) são exemplos de lagoas temporárias utilizadas por inúmeras espécies de anfíbios e estão entre os ambientes mais agredidos pelo homem. Extensas áreas de banhados já foram destruídas para o cultivo de arroz irrigado, com utilização de muito veneno e formação de lagoas destinadas à criação de peixes importados, grandes devora-dores dos girinos, que não estão adaptados para defender-se dessas espécies de peixes predadores introduzidos pelo homem.

Figura 4.14 - Banhado destruído para cultivo de arroz irrigado.

Ao contrário do que muitos imaginam, a maioria dos anfíbios não mora nos banhados, mas nas matas próximas, utilizando-os apenas para reprodução. Essa é uma constatação que não se deve esquecer: o banhado é uma maternidade para os anfíbios.
A maioria das espécies de anfíbios da Mata Atlântica é adaptada para desovar nestes ambientes aquáticos temporários. A preferência por esse tipo de ambiente está no fato de que potenciais predadores, como peixes (traíras, lambaris, etc.), não conseguem se desenvolver no curto período de acumulação de água (que, em certos casos, pode durar apenas alguns dias).

Geralmente, os girinos dessas espécies não são numerosos, possuem coloração mais clara e apresentam desenvolvimento rápido: a meta-morfose acontece entre 20 a 30 dias (transformação de girino para a forma adulta) e estes passam para a vida terrestre. Muitas vezes podem ocorrer variações climáticas e as lagoas secarem antes do tempo necessário para os girinos se desenvolverem, ocasionando sua morte.

Figura 4.15 - Ambiente aquático temporário (seca durante certos períodos): local preferido para a maioria das espécies de anfíbios da Mata Atlântica.

Durante milhões de anos, foram selecionadas as espécies com um determina-do número de ovos e uma taxa de sobrevivência dos girinos que leva em conta as temporadas mal sucedidas, em função de eventuais períodos de estiagem, dentre outros fatores. Porém, devido aos desmatamentos e alterações climáticas (decorrentes da emissão de gases causadores do efeito estufa e dos próprios desmatamentos), são cada vez mais freqüentes os desequilíbrios no regime de chuvas na Mata Atlântica. Esses fatores fazem com que sucessivas desovas sejam perdidas, o que provoca uma redução drástica na população de anfíbios e pode levar à extinção de muitas espécies.

Os anfíbios são indispensáveis para a alimentação de muitas aves e diversos animais, como o Mão-pelada, Gato-do-mato, Quati, Cachorro-do-mato, Jaguatirica, Porco-do-mato, Macaco, Lagarto, Cobra, etc. Se os anfíbios desaparecerem, estes animais desaparecem também.

4.3.3 Rios e riachos

Na Mata Atlântica, há muitas espécies de anfíbios que utilizam riachos (com corredeiras e cachoeiras) de água cristalina para se reproduzirem. Há espécies que, além de se reproduzirem, também moram nos rios, escondidas sob as pedras ou fendas, quando não estão em atividade. Ou seja: o hábitat dessas espécies é restrito ao leito dos rios e riachos. São espécies raras e muito ameaçadas de extinção, uma vez que são poucos os rios que ainda não foram contaminados pelo homem (se os rios onde vivem forem poluídos, elas não terão para onde ir e morrerão).

Os girinos das espécies que desovam em água corrente de rios e riachos apresentam um desenvolvimento mais lento: podem levar mais de um ano para tornarem-se adultos e são muito exigentes quanto à pureza da água que, se não for cristalina ou conter qualquer poluente (como esgoto e excesso de sedimentos), será inadequada para sua sobrevivência. Geralmente, estas espécies possuem a boca adaptada para grudar nas pedras e corredeiras, alimentando-se de limo, da mesma forma que os cascudos.

Figura 4.16 - Riacho com água bem cristalina, típico da Mata Atlântica, na Serra do Mar: ambiente de reprodução para espécies raras de anfíbios.

É muito interessante a adaptação dos girinos das Rãs-de-cachoeiras (Cycloramphus), espécies exclusivas dos rios e riachos da Serra do Mar, de Santa Catarina a São Paulo. Estes girinos são semi-aquáticos, isto é, desenvolvem-se grudados nos paredões rochosos junto às cachoeiras, molhados pelos respingos constantes de água, e alimentam-se de algas que raspam das pedras com a boca, que é especialmente adaptada para este tipo de ambiente.

Figura 4.17 - Girino da rã-de-cachoeira (Cycloramphus duseni), que é semi-aquático: espécie adaptada para viver grudada nos paredões rochosos das cachoeiras da Serra do Mar. Sua coloração confunde-se com o granito das rochas.

 

Figura 4.18 - Exemplar adulto da rã-de-cachoeira (Cycloramphus asper): espécie muito ameaçada, sendo encontra em poucos rios, que ainda não foram poluídos.

4.3.4 Interior de bromélias

Na Mata Atlântica de Santa Catarina há, pelo menos, três espécies de anfíbios (pererecas) que se reproduzem na água acumulada nas bromélias, sendo que, duas delas também vivem nas bromélias.

Estas plantas se constituem, portanto, em um micro-hábitat para estas espécies. Pelo fato de ser um ambiente seguro, ou seja, livre de predadores, a quantidade de ovos depositados é pequena.

A retirada das bromélias da natureza para o comércio e o desmatamento ameaça a sobrevivência dessas espécies de anfíbios.

Figura 4.19 - Perereca-de-bromélia (Scinax perpusillus): deposita seus ovos na água acumulada nas bromélias.

4.3.5 Poças escavadas pelas próprias rãs

Esta estratégia de proteção da ninhada é utilizada pelo Sapo-martelo (Hypsiboas faber). Às margens de uma lagoa, o macho escava uma bacia (gamela) no barro, com cerca de 30 cm de diâmetro, especialmente para a fêmea depositar seus ovos (em torno de 3000), que ficam grudados numa película de gel (que os mantêm na superfície da água para facilitar a oxigenação). Os ovos são brancos na parte inferior (que fica submersa) e pretos na parte superior (que fica exposta ao sol), para que o embrião fique protegido dos raios solares, sobretudo da radiação ultravioleta.

Figura 4.20 - Casal de Sapo-martelo (Hypsiboas faber) dentro da gamela construída pelo macho.

É interessante esta estratégia de isolar a poça do restante de uma lagoa, pois oferece uma boa garantia de segurança para os girinos que, na fase inicial, não nadam muito rápido para fugirem dos predadores. Após um certo período, quando estiverem mais desenvolvidos e ocorrer a elevação do nível da água, os girinos acabam migrando para a lagoa principal, onde permanecem por mais de um ano até completarem o desenvolvimento.

Figura 4.21 - Desova do Sapo-martelo (Hypsiboas faber), que é feita numa gamela construída pelo macho: ambiente seguro para os girinos.

 

Figura 4.22 - Várias gamelas construídas pelo Sapo-martelo (Hypsiboas faber), que ficam isoladas da lagoa principal, para proteção contra possíveis predadores aquáticos. Os girinos do sapo-martelo têm uma adaptação especial para sobreviverem com nível bastante baixo de oxigênio na água, situação que, normalmente, ocorre na água retida nessas pequenas poças. Se a poça secar, os girinos podem resistir por mais de 24h.

 

Figura 4.23 - Os ovos do Sapo-martelo ficam grudados numa película de gel para não afundarem e, assim, se manterem oxigenados.

 

Figura 4.24 - Ao nascerem os girinos do Sapo-martelo (Hypsiboas faber) têm baixa mobilidade, mas ficam protegidos na gamela construída pelo pai até se desenvolvem mais e adquirirem a habilidade de nadar rapidamente para fugirem do ataque dos predadores aquáticos.

4.4 Desova fora da água com fase de girino aquático

A desova fora da água, mantendo a fase de girino aquático, é o primeiro grau na evolução dos anfíbios em busca da independência da água.

Muitas estratégias são utilizadas por diferentes espécies nesta modalidade de reprodução:
- Desova acima do nível da água: girinos nascem e caem direto na água;
- Desova em locais secos de provável inundação;
- Desova em tocas nas margens, conectadas ao corpo de água principal;
- Desova transportada nas costas da mãe.

4.4.1 Desova acima do nível da água: girinos nascem e caem diretamente na água

Nesta estratégia, os ovos são depositados nas folhas da vegetação às margens dos corpos d'água (lagoas, rios, etc.), de modo que, ao eclodirem, os girinos caem diretamente na água. A vantagem dessa estratégia está no fato de os embriões terem mais tempo para se desenvolverem, gerando um girino mais forte e com boa agilidade para escapar de predadores tão logo caia na água - ao contrário do que ocorre com os girinos das espécies que depositam seus ovos diretamente na água, pois eles precisam nascer bem depressa (devido à probabilidade de haver predadores de ovos), resultando em girinos lentos, que são presas fáceis para os predadores. Por ser uma estratégia que confere mais segurança à desova e aos girinos, o número de ovos depositados por essas espécies é muito menor se comparado àquelas com desova diretamente na água.

Exemplos de espécies da Mata Atlântica que utilizam esta estratégia: Filomedusa (Phyllomedusa distincta), Rã-vidro (Hyalinobatrachium uranoscopum) e Pererequinha-da-restinga (Dendrophryniscus berthalutzae).

A - Estratégia de reprodução da Filomedusa

(Phyllomedusa distincta)

Os ovos, envolvidos com gel, são enrolados nas folhas de árvores ou arbustos, suspensas sobre a superfície das lagoas temporárias, no meio ou nas bordas da floresta. Entre 7 a 30 dias, os girinos eclodem e caem diretamente na água, onde completam seu desenvolvimento após cerca de 80 dias. As desovas contêm, em média, 172 ovos.

Figura 4.25 - Estratégia de reprodução da Filomedusa: os ovos, envolvidos com gel, são enrolados nas folhas de árvores suspensas sobre a superfície das lagoas temporárias. O macho fecunda os ovos à medida que a fêmea os deposita.

A Filomedusa vive nas árvores e sua coloração verde serve para camuflar-se nas folhas, não sendo facilmente notada pelos predadores. A destruição dos locais apropriados para reprodução está levando a espécie à extinção. Em vários lugares de Santa Catarina, ela já desapareceu. A formação de lagoas nas áreas de brejo para criação de peixes provoca o rápido extermínio dessa perereca, pois seus girinos são presas fáceis para diversas espécies de peixes.

Por isso, sua reprodução é bem sucedida em lagoas temporárias (que secam durante o inverno), onde não há possibilidade de peixes e outros predadores se desenvolverem. Como o período de desenvolvimento dos girinos (cerca de 80 dias) é relativamente longo, as estiagens prolongadas no período de reprodução (de setembro a fevereiro), que vêm ocorrendo com bastante freqüência devido aos desmatamentos, estão afetando a população dessa espécie, mesmo em áreas bem preservadas. A ausência dos anfíbios rompe o equilíbrio dos ecossistemas, pois eles estão na base da cadeia alimentar. Na Mata Atlântica, além das cobras, diversas espécies de aves e mamíferos (Mão-pelada, Quati, Gato-do-mato, Cachorro-do-mato, etc.) alimentam-se de anfíbios e seu extermínio provoca o desaparecimento dessas várias espécies da fauna.

Figura 4.26 - Após o término da desova, a fêmea conclui o fechamento da parte superior da folha, para proteger os ovos contra o ressecamento. Repare o macho deixando o local da desova. O gel depositado com os ovos funciona como uma cola, que mantém a folha bem fechada.

 

Figura 4.27 - Girino da Filomedusa que acabou de deixar a vida aquática. Sua cauda, que foi muito útil na água para nadar e escapar de predadores, será absorvida em poucos dias.

B - Estratégia de reprodução da Rã-vidro (Hyalinobatrachium uranoscopum)

A desova, com cerca de 50 ovos, ocorre sobre as folhas largas da vegetação às margens dos rios e riachos de modo que, ao eclodirem, os girinos caem diretamente na água (como pode ser visto nas Figuras 4.29 e 4.30).

Figura 4.28 - Rã-vidro(Hyalinobatrachium uranoscopum)
Figura 4.29 - Desova da Rã-vidro (Hyalinobatrachium uranoscopum)

 

Figura 4.30 - Desova da Rã-vidro (Hyalinobatrachium uranoscopum). A sujeira (lama) que aparece sobre a desova é devido a uma enxurrada que elevou o nível do riacho e a água encobriu a desova.

C- Estratégia da Pererequinha-da-restinga (Dendropsophus berthalutzae)

Desova nas áreas inundadas pelas chuvas, nas bordas da restinga. Os ovos são depositados nas folhas pendentes sobre a lagoa formada, de modo que, ao eclodirem, os girinos caem diretamente na água. A atividade reprodutiva ocorre somente após fortes chuvas.

Figura 4.31 – Pererequinha-da-restinga (Dendropsophus berthalutzae).

 

 

Figura 4.32 - Desova da Pererequinha-da-restinga (Dendropsophus berthalutzae)

4.4.2 Desova em locais secos de provável inundação

Nesta estratégia, a desova é feita em locais úmidos, como em depressões de terrenos que, provavelmente, serão inundados. Socando o barro com a cabeça, o macho constrói uma cavidade subterrânea com tamanho suficiente para acomodar a desova (cerca de 5cm de diâmetro), que é conectada a uma outra cavidade lateral, onde ele se acomoda para coaxar, ficando apenas com a cabeça de fora. Ao ocorrer o acasalamento, os ovos, cerca de 200, são depositados em espuma dentro dessa cavidade. Os girinos nascem após 4 dias e vivem no meio da espuma até ocorrer uma inundação de enxurrada, quando passam a viver na lagoa formada. Se a lagoa secar, eles conseguem sobreviver por vários dias em lugares úmidos, como embaixo das folhas em decomposição, aguardando uma nova inundação.

A - Estratégia de reprodução da Rã-goteira (Leptodactylus notoaktites) e Rã-escavadeira (Leptodactylus plaumanny)

Rã-goteira (Leptodactylus notoaktites), macho, coaxando dentro da toca.
 
Desova dentro da câmara subterrânea.
 
Girinos vivendo no meio da espuma, aguardando a inundação provocada por uma chuva forte.
Figura 4.33 - Estratégia de reprodução da Rã-goteira e da Rã-escavadeira.

 

Figura 4.34 - Rã-goteira (Leptodactylus notoaktites)

 

Figura 4.35 Rã-escavadeira (Leptodactylus plaumanni)

4.4.3 Desova em tocas nas margens conectadas ao corpo de água principal

O macho, caprichosamente, constrói na terra úmida e longe das lagoas, uma cavidade com diâmetro de 3,5cm que contém uma tampa com um furo no centro, que serve como passagem. Os ovos, em torno de dez, são ali depositados e envolvidos por espuma. Os girinos nascem e desenvolvem-se no meio dessa espuma e, durante este período, não se alimentam, vivendo das reservas nutritivas do ovo.

O número de ovos é reduzido porque o interior da bola de espuma é um ambiente seguro para os girinos. É interessante notar que esta espécie de rãzinha apresenta uma estratégia de reprodução independente da água, mas mantém a fase de girino. Ela está livre do problema das lagoas secarem, mas não escapa dos desmatamentos e queimadas.

Figura 4.36 - Rãzinha-piadeira (Adenomera marmorata): reprodução de girino aquático fora da água.

4.4.4 Desova transportada nas costas da mãe

Depois de fecundados, os ovos são carregados nas costas da fêmea, numa espécie de bolsa e, ao eclodirem, os girinos são depositados na água acumulada nas bromélias. Os girinos saem da bolsa através de uma abertura na parte central.

O número de ovos pode chegar a 16. Normalmente, são utilizadas as bromélias que estão fixadas nos pontos mais altos das árvores. O número de ovos não é elevado, se comparado com outras espécies, porque as bromélias, onde os girinos se desenvolvem, proporcionam um ambiente aquático relativamente seguro, sem muitos predadores.

Figura 4.37 - Perereca-transporta-ovos (Flectonotus fissilis): mãe transporta os
 ovos nas costa e, ao eclodirem, os girinos são despejados em diferentes bromélias.

4.5 Desenvolvimento direto (sem fase de girino aquático)

Algumas espécies de rãs que habitam a Mata Atlântica não apresentam fase de girino aquático, ou seja, se reproduzem por desenvolvimento direto. Os ovos são depositados embaixo de troncos e folhas secas em decomposição no chão da floresta e as rãzinhas nascem diretamente do ovo, já na forma adulta.

Figura 4.38 - Rã-da-floresta (Eleutherodactylus binotatus): não possui de girino aquático.

Figura 4.39 - Rã-da-floresta (Eleutherodactylus sp. do grupo guentheri): não possui fase de girino aquático.

 

 
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